quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O que aconteceu de fato?

O encerramento das operações da Casas Bahia no Rio Grande do Sul, anunciado em meio às festas do fim de ano, pegou muita gente de surpresa. Especialmente os consumidores. De um dia para o outro, as últimas cinco lojas da rede no Estado foram fechadas - e sem maiores explicações. Em nota oficial, a empresa atribuiu a saída a cobranças "indevidas" feitas pela Receita Estadual, num valor de aproximadamente R$ 52 milhões.

Como nenhuma das partes se manifesta sobre o assunto, AMANHÃ procurou dois especialistas em direito tributário para entender a briga envolvendo a base de cálculo do ICMS. Ainda que desconheçam detalhes do caso, os advogados acreditam que a discórdia estaria na tributação dos juros de vendas feitas a prazo. Esse tipo de debate, aliás, é comum entre Receitas Estaduais e empresas de todo o Brasil. Por exemplo: o varejista vende um produto por "X" e, na venda a prazo, acresce 10%. Na hora de calcular o imposto, a Sefaz taxa sobre "X mais 10%". Por isso, o descontentamento das empresas - especialmente porque, em alguns estados, a Fazenda faz "vista grossa" e cobra o ICMS apenas sobre o valor da venda, deixando o juro de lado.

Uma das fontes alerta que é comum as empresas separarem a venda da atividade de crédito, repassando o encargo para uma financeira ou um banco. Assim, o ICMS só é calculado sobre o preço da venda. No entanto, as Fazendas têm ganhado um forte aliado nesse tipo de discussão: o Superior Tribunal de Justiça. "O STJ vem decidindo que deve incidir tributo sobre o juro das vendas a prazo", explica um dos advogados.

Apesar de a Fazenda gaúcha ter se prontificado a rever administrativamente algumas das 45 infrações, outros fatores levam a crer que a debandada da Casas Bahia tem muito mais a ver com maus resultados decorrentes da estratégia mercadológica adotada. Essa é a conclusão de especialistas em varejo ouvidos por AMANHÃ.

"Desculpa midiática". É assim que Hermes Ghidini, diretor da HL Ghidini Consultoria, define a explicação dada pela Casas Bahia no fim de dezembro. Para ele, a decisão está relacionada às diretrizes do novo dono da empresa, o Pão de Açúcar. Na opinião do consultor, o grupo comandado pelo empresário Abílio Diniz teria preferido manter apenas a operação do Ponto Frio (também adquirido em 2009), por ser mais consolidada no Rio Grande do Sul do que a Casas Bahia.

Quando aterrissou no Estado, em 2004, a Casas Bahia abriu 28 lojas em um curto espaço de tempo. Cinco anos depois, restavam apenas cinco unidades. "Antes de qualquer coisa, eles deveriam ter comprado uma rede local, pequena ou média, para assimilar a cultura", avalia o consultor em varejo Moacir Moura.

Para Hermes Ghidini, a força da Casas Bahia como líder no Brasil em eletro e móveis não foi suficiente para desbancar as redes locais, "bem consolidadas e capitalizadas". Entre elas, ele aponta uma série de nomes, como Colombo, Manlec, Quero-Quero, Benoit, Becker, Herval, Volpato, Deltasul, Obino, Lebes, Certel, Solar, CRDiementz. "Nenhuma delas se intimidou com o estilo da Casas Bahia", observa.

Outro equívoco cometido pela rede paulista fundada há mais de 60 anos por Samuel Klein foi comprar terrenos e pontos pagando valores acima do mercado. "O mesmo erro já havia sido cometido em Santa Catarina, no Paraná e em Minas Gerais", lembra Ghidini.

Mas os tropeços não pararam por aí. Um dos negócios de maior lucratividade da empresa, a venda de garantia estendida, ficou muito abaixo da expectativa. Assim, as lojas gaúchas eram menos rentáveis do que a média brasileira. "Os custos administrativos cresceram, a inadimplência foi mais alta do que eles esperavam e as vendas não corresponderam", acrescenta Moura - que não hesita em dizer que "o que começou errado só poderia terminar errado". "Todo o projeto foi um mico", completa Ghidini.

Por Ricardo Lacerda
Fonte: http://www.amanha.com.br/NoticiaDetalhe.aspx?NoticiaID=ca9ed1b7-aa66-4ff2-9f4e-a319f63787ef

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Aqui percebemos que os ensinamentos do Professor Michael Porter não foram aplicados na estratégia.

Ligia Galvão

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